Iluminação Cênica - Um breve relato

Digamos que a iluminação profissional abranja três módulos: dança, teatro e música. Para se tornar mais clara esta assertiva, suponhamos que os efeitos mais esplendorosos e psicodélicos estejam mais atrelados à apresentação de conjuntos musicais, deixando para o teatro e para a dança uma iluminação com mais "poesia" . Entretanto, sabemos que nem sempre a música é espetaculosa por excelência, que a dança não é a única a valorizar as marcações de palco e que o teatro não tem um cerne, via de regra, dramático. Mas o iluminador profissional sempre esboça a sua preferência ante um tipo de arte a outro a partir dessa generalização.
Mesmo que possa parecer ortodoxo e retrógrado, percebo que, para que haja peças teatrais de modo a não decretar a morte do teatro, é prudente que sejam preservados dois aspectos: a manutenção de refletores antigos (ainda que os modelos novos venham compor a iluminação de uma apresentação) e o mínimo de ocultismo no que concerne a aparato técnico. Isso não deveria nem passar pela cabeça de um iluminador de teatro que fosse solicitado para fazer o desenho da iluminação de uma apresentação. Ao menos que fosse para cumprir uma exigência.
As bambulinas, no dizer do iluminador Juan Garzo, permitem a possibilidade de se trabalhar com a luz oculta. Certamente, não haveria mais o "esqueleto" à mostra. Porém, vejo o quanto o "esqueleto" de um teatro (refletores, coxia, palco de madeira que permita o barulho das pisaduras, etc.) traz deslumbramento ao público. É o método de Brecht – que mostra que o público deve distinguir a realidade da ficção – sendo posto em prática para o bem do teatro. Há, em toda a parte, possibilidade das pessoas participarem de uma transmissão próxima da realidade, até mesmo ao divisar cenas impossíveis. O cinema, os grande festivais, a TV e a Internet abocanharam o avanço tecnológico, e o teatro parece que quer ir para o mesmo caminho, como se cobrasse eqüidade no que concerne à tecnologia. Os refletores, hoje, se autoprogramam e trocam gelatinas sozinhos. O progresso é vantajoso, decerto. Uma mesa digital, ou o próprio computador, facilita a vida do operador. Tudo isso deve ser mantido, mas podemos conciliar a tendência tecnológica com o mínimo de trasparência em relação à percepção pública dos aparatos técnicos. Para que insistir em ocultar os refletores por completo em meio a camuflagens?
Creio que os refletores devem estar, sim, à mostra. Sobre este mister, nem mesmo a miniaturização será benéfica. A definição "teatro puro", que se jacta por conter o tipo de iluminação oculta, na verdade poderia ser entendida como o princípio (a gênese) do "teatro hologramático", no qual só veremos o artista, sem a presença física que transmite calor humano. Os aparatos também transmitem os seus "calores", e estes não podem ser desprezados. Eu diria que são os cenários permanentes. Há coisas que devem ser mantidas. As páginas de papel que formam o jornal e um livro jamais deixaram de existir, mesmo com a invenção dos veículos de informação modernos, como os e-books. Assim, o teatro (que significa lugar onde se vê) deve continuar sendo a arte reveladora, levando ao público (imediatamente) os segredos de uma produção, prosseguindo em deixar patente a localização dos projetores de focos de luz que irradiam a arte cênica. O teatro é, de fato, o Apocalipse das formas de expressão artística.

Ps.: refletores convencionais: (par, elipsoidal, far cyc, beam-beam, fesnéis, PC, etc.)
refletores (mais) modernos: movie light, luz estroboscópica, etc.

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